quarta-feira, 27 de julho de 2011

Presentes destinos


Tentamos agarrar com todas as forças esse presente que, mal passando por nossos olhos, escapa pelos vidros das janelas que o encobrem. Raramente paramos para vislumbrar o contraditório dessa dimensão temporal que finita ao mesmo momento em que inicia, quase imperceptivelmente à limitada mente humana. Será este presente uma ruptura perdida no espaço, que viaja à velocidade de um feixe de luz e se destrói na presença de tantas outras compulsórias e também autodestrutivas ondas luminosas? Que "presentes" permitem que nossos corpos permaneçam no tempo, impedindo que caiam no caos incontrolável da existência?

Comumente nos referimos ao presente como uma alegoria a um passado ou futuro próximo, como se estas dimensões estivessem suficientemente vivas; como se fosse possível lembrá-las e relembrá-las, ou nelas morasse o espectro confortável do cotidiano previsível. Esse presente paira como uma estratégia de mediação entre o que passou e o porvir, tornando-se um belo e incontestável equilíbrio ao qual conseguimos, indiretamente, enxergar. Impedidos de ladrilharmos os presentes que nos cercam, seríamos sugados por esse (falso) presente que nos dimensiona à ilusão da comodidade.

Seria possível desfazer os pontos desse equilíbrio; livrar-se dos grilhões do tempo; modificar o destino? Há um certo trauma instalado nos olhos do futuro; uma armadilha que nos espera quando ousamos adentrar o ainda não-acontecido. Mas se a humanidade é capaz de voltar seus olhares para um passado que já nos é (quase) intangível, do qual só nos restam cinzas , por que não nos virarmos para esse misterioso destino? 

O presente, inexistência viva e mediador do caos, não sobrevive sem o tempo; soberano. O destino não é mais do que uma imperfeita mistura entre os caminhos do aparentemente inevitável e as palavras que conseguimos intervir nas poesias do (falso) presente. Mudamos o que está invisível e distante. Tocamos no fogo sem que nossas mãos se sintam queimar; caímos na desarmonia do universo. Nossos presentes, avistados por lentes distorcidas, misturam-se à espiral que une o passado e o futuro nas direções do inesperado. Ao final, presentes e destinos tornam-se intocáveis grandezas espiraladas pelos tantos vetores que transformam a existência em um imprevisível cotidiano. Não há como fugir. O tempo selou um beijo em nossos lábios mais uma vez.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Palavras


“As palavras são, em minha humilde opinião, a nossa mais inesgotável fonte de magia.” – Alvo Dumbledore para Harry Potter em “As Relíquias da Morte”

Há algo de misterioso nessas palavras, que adentram os ouvidos e se fazem vivas, vislumbradas por cada olho-leitor e perpassadas por mentes de todos os cantos e mundos. São letras, sons, gestos, gritos inabafáveis, imagens, melodias do exagero, que ultrapassam o meramente finito e quaisquer limites impostos. Palavras recitadas com paixão; escancaradas pela raiva; escritas com lágrimas. Palavras interditadas, mudas; sequestradas pelo passado; suspensas pela autoridade do silêncio. Fixadas pelas memórias às quais outorgam a própria sobrevivência.

Discursos, poesias ordinárias, imagens recitadas, anotações, diários de outrora, romances esquecidos, subvertidos e adulterados. Muitas de suas palavras insistem em permanecer, desafiando a morte, capazes de despertar e ferir o sensível; de, simultaneamente, envenenar e anestesiar. Palavras de arrependimento perdidas em um momento qualquer; escondidas no seio do proibido; trancafiadas. Lacradas na boca de cada indivíduo e seladas pelo íntimo, ou, aquelas que escapam, ainda que ocasionalmente. São estas pequenas palavras, dotadas de imensurável poder, impregnadas pelo sentir, esmiuçadas no cotidiano, frente ao caráter inusitado da vida humana. O mais próximo do que poderíamos chamar de magia.