Comumente nos referimos ao presente como uma alegoria a um passado ou futuro próximo, como se estas dimensões estivessem suficientemente vivas; como se fosse possível lembrá-las e relembrá-las, ou nelas morasse o espectro confortável do cotidiano previsível. Esse presente paira como uma estratégia de mediação entre o que passou e o porvir, tornando-se um belo e incontestável equilíbrio ao qual conseguimos, indiretamente, enxergar. Impedidos de ladrilharmos os presentes que nos cercam, seríamos sugados por esse (falso) presente que nos dimensiona à ilusão da comodidade.
Seria possível desfazer os pontos desse equilíbrio; livrar-se dos grilhões do tempo; modificar o destino? Há um certo trauma instalado nos olhos do futuro; uma armadilha que nos espera quando ousamos adentrar o ainda não-acontecido. Mas se a humanidade é capaz de voltar seus olhares para um passado que já nos é (quase) intangível, do qual só nos restam cinzas , por que não nos virarmos para esse misterioso destino?
O presente, inexistência viva e mediador do caos, não sobrevive sem o tempo; soberano. O destino não é mais do que uma imperfeita mistura entre os caminhos do aparentemente inevitável e as palavras que conseguimos intervir nas poesias do (falso) presente. Mudamos o que está invisível e distante. Tocamos no fogo sem que nossas mãos se sintam queimar; caímos na desarmonia do universo. Nossos presentes, avistados por lentes distorcidas, misturam-se à espiral que une o passado e o futuro nas direções do inesperado. Ao final, presentes e destinos tornam-se intocáveis grandezas espiraladas pelos tantos vetores que transformam a existência em um imprevisível cotidiano. Não há como fugir. O tempo selou um beijo em nossos lábios mais uma vez.