Caminhei pelas rochas que, inexplicavelmente, pareciam formar tua imagem. Desnivelei meus olhos queimados lacrimejando as faíscas que de ti saíam. Atravessei teus balanços. Senti cada gota de teu sangue cair em minhas costas. Machucavas-me cada vez que mostravas tua indiferença.
Escondias teus instrumentos, mas ainda me cirurgiavas para anestesiar meu corpo. Não refutavas sentir o doce prazer de atingir-me. Devaneios teus me debatiam dentro da fogueira dos sentidos e me destroíam na extensão da tua negativa. Transmutava-me em tua fotografia revelada. Teu rosto sequer aparecia, apenas teu vulto. Estavas queimando a ti, com teu poder de escorpião. Transformaste-me em um comensal da tua maldade.
Combustaste minha alma. Não tiveste qualquer medo. A tempestade de fogo não era nem metade de teu poder. Engolias-me. Fazias-me morrer sem, sequer, envelhecer. Entorpecias qualquer gota de meu alívio. Mas tu, ardilosa feiticeira do sensível, não és mais minha soberana. Teu sangue também corre em minhas veias e borbulha a cada segundo. Continuo aqui, a esperar o dia em que possa sair do teu casulo. Confio no tempo, que será capaz de me afastar de ti.