quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vingança


Caminhei pelas rochas que, inexplicavelmente, pareciam formar tua imagem. Desnivelei meus olhos queimados lacrimejando as faíscas que de ti saíam. Atravessei teus balanços. Senti cada gota de teu sangue cair em minhas costas. Machucavas-me cada vez que mostravas tua indiferença.

Escondias teus instrumentos, mas ainda me cirurgiavas para anestesiar meu corpo. Não refutavas sentir o doce prazer de atingir-me. Devaneios teus me debatiam dentro da fogueira dos sentidos e me destroíam na extensão da tua negativa. Transmutava-me em tua fotografia revelada. Teu rosto sequer aparecia, apenas teu vulto. Estavas queimando a ti, com teu poder de escorpião. Transformaste-me em um comensal da tua maldade.

Combustaste minha alma. Não tiveste qualquer medo. A tempestade de fogo não era nem metade de teu poder. Engolias-me. Fazias-me morrer sem, sequer, envelhecer. Entorpecias qualquer gota de meu alívio. Mas tu, ardilosa feiticeira do sensível, não és mais minha soberana. Teu sangue também corre em minhas veias e borbulha a cada segundo. Continuo aqui, a esperar o dia em que possa sair do teu casulo. Confio no tempo, que será capaz de me afastar de ti.

Um comentário:

  1. 55 minutos para o dia 22 terminar para esse fuso horário que o blogspot usa. 3 e pouco da madrugada no nosso fuso. Os dias acrescentam, as leituras acrescentam... Tudo que passamos vai sendo acrescentado nas novas "leituras" de mundo, nas nossas releituras.
    Não gosto de ler esse passado restaurado, não desse jeito. Vejo um menino que procura algo que machuque para sarar. Indiferenças doem. Um corte resolve na medicina para arrancar uma bala perdida, talvez a lógica seja a mesma, mas eu não gosto dessa lógica. Mas depois da primeira dosagem de anestesia, depois de um tempo o corpo já reage e renasce, em outro templo, com outros quadros recém pintados, mesmo tendo uma civilização inteira de referenciais, os quadros são novos, as rochas do piso são outras, de outro espaço. Já saímos do casulo, mas ainda temos nosso corpo de lagarta, nossos pensamentos permanecem. Não há ruptura. Ainda. Talvez apareça de repente, talvez não exista mesmo. Será? E quando vamos nos vingar de nós mesmos?

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